Está prestes a embarcar na
aventura de uma vida que é a construção de uma casa? Quem sabe, a preparar a
recuperação de um antigo edifício, herança de família? Ou mesmo a ultimar os
preparativos para a compra da sua casa? Parabéns, isso significa que caiu em
cheio no maravilhoso mundo da arquitetura!
Mas nós sabemos como a entrada
num território desconhecido pode ser difícil… Tantos estilos diferentes, arte e
técnica, jargões complicados, nomes e influências podem deixar qualquer um à
beira de um ataque de nervos, sobretudo se nunca se interessou pelo assunto.
Aqui vai saber o que é, e como
nasceu a arquitetura, conhecer os estilos principais, descobrir um pouco da
obrigatória ligação desta arte à engenharia civil e à construção, conhecer o
panorama nacional e muito mais! Acompanhe-nos!
1 – O que é a arquitetura?
Esta parece uma pergunta de
resposta simples, afinal todos nós temos uma vaga ideia… Uns dizem que é
desenhar casas, outros que é ’planear construções, há quem ache que é uma arte,
como o desenho, a pintura ou a escultura. As opiniões variam, mas quem está
certo? Nós respondemos: – todos!
Desde a construção dos primeiros
abrigos, depois da saída das cavernas, que a arquitetura tem estado sempre
presente em cada passo da humanidade, evoluindo e caminhando para que esses
abrigos se lhe tornem cada vez mais adaptados. Nessa evolução a sua ação
ampliou-se, passando a incluir tudo o que esses abrigos contêm e tudo o que os
rodeia, seja a paisagem natural ou a urbana, ou até numa escala maior, o
território.
A palavra arquitetura vem da
junção de duas palavras gregas : – arkhé e téhkton, que significam principal e
construção, respetivamente, e refere-se a todo o processo de conceção de
projetar e construir toda a envolvente habitada pelo ser humano. E sendo assim
é um conceito amplo, que envolve múltiplas disciplinas para se desenvolver.
Desenhar algo implica preparação
em arte e desenho, mas fazê-lo para que esse desenho se transforme em algo
estável e seguro requer muito mais. Um arquiteto precisa de muita preparação em
matemática, física, e obviamente acompanhar todas as tecnologias construtivas
para encontra as melhores soluções. E não podemos esquecer que a arquitetura
serve o Homem desde a sua alvorada, e por isso precisa ciências como a
sociologia, a filosofia, a política e até a história.
Demasiadas coisas? É para isso
que o curso de arquitetura é uma licenciatura de cinco anos e que a profissão
de arquiteto, para ser bem sucedida, está sujeita a permanentes atualizações.
1.1 – O estilo e as escolas
Quando pensamos em arquitetura
pensamos quase imediatamente em estilo arquitetónico como sendo um conjunto de
características construtivas e estéticas que agregam vários edifícios em grupos
estanques que partilham essas características. Mas na realidade, esta ideia
compartimentada e estanque não é totalmente correta… Se fosse assim as regras
estariam sempre associadas a esse estilo em específico, o que seria muito
redutor e impraticável, porque a mistura que leva à evolução não existiria. Por
isso hoje em dia, sobretudo no meio profissional, o termo estilo caiu em desuso
e passou a utilizar-se o termo escola ou momento histórico para designar esses
conjuntos de tendências que marcam uma época ou estabelecem pontos de viragem.
Ainda assim o temo estilo é usado entre os profissionais para designar a
expressão individual de um arquiteto em particular, e claro, em termos leigos,
para distinguir as diferentes correntes.
2 – Qual é a relação entre
arquitetura, engenharia civil e construção?
Neste ponto a confusão
instala-se! Um arquiteto ou um engenheiro civil? Para a construção da minha
casa preciso de qual? E como interagem com os construtores? Estas parecem
questões de resposta fácil, mas na realidade não é bem assim… Afinal é sabido
que muitas vezes os engenheiros civis fazem plantas de casas, e que os arquitetos
também acompanham obras.
Quais são então as semelhanças e
as diferenças?
2.1- O arquiteto
Um arquiteto é um profissional
licenciado com bases académicas em áreas tão distintas como a matemática, a
sociologia ou a história, e competências vastas no desenho e planificação de
edifícios. Ele vai ser responsável pelo desempenho da estrutura no seu todo,
desde as fundações até ao telhado, e também pelo seu aspeto exterior, estando
perfeitamente habilitados a fazer qualquer alteração necessária a essa
estrutura. Este profissional O arquiteto pode também assumir as funções de
arquiteto de interiores, encarregando-se de projetar o estilo e o layout dos
interiores de uma casa, fazer projetos de iluminação, e estão muitas vezes
envolvidos nas escolhas estéticas e funcionais para os espaços, bem como na sua
distribuição espacial, mas o mais normal é haver nos gabinetes profissionais
das duas áreas que trabalham em conjunto para lhe fornecer uma resposta mais
completa, sobretudo quando se tratam de reformas extensas.
2.2 – O engenheiro civil
A formação académica do
engenheiro civil é mais voltada para os aspetos práticos do que para o conceito
estético, e a sua licenciatura inclui disciplinas como a matemática e a física.
Isto capacita-o para efetuar com rigor os cálculos necessários para concretizar
a visão do arquiteto com segurança, o acaba por ligar o engenheiro civil mais à
parte da conceção da estrutura dos edifícios. Este profissional analisa as
forças e cargas a que a estrutura estará sujeita, avalia a capacidade de
suporte do solo do terreno, aponta o tipo de fundações necessárias e dimensiona
a estrutura da obra, efetua os cálculos de dimensionamentos e quantidades de
colunas de suporte, prevê a distribuição das cargas para cada ambiente e indica
o tipo de materiais a serem utilizados na obra. Muitas vezes também é
responsável pelo projeto de águas, esgotos e eletricidade. Certifica-se de que
tudo é feito segundo o especificado nas normas técnicas através de um acompanhamento
regular da obra.
2.3 – O construtor civil
Os construtores são uma das
equipas que integram a construção de um edifício, seja qual for a sua
utilização. São os responsáveis por pôr na prática o planos que resultam dos
desenhos feitos pelo arquiteto e dos cálculos efetuados pelo engenheiro civil.
Normalmente as equipas de construção são coordenadas pelo empreiteiro, que
acaba por ser o responsável por garantir que todas as equipas (construtores,
canalizadores, eletricistas… ) cumprem com o especificado e pedido no projeto,
sempre sob a supervisão do engenheiro civil.
3 – Arquitetura portuguesa – do
Algarve a Trás os montes
A arquitetura em Portugal é o
produto eclético de séculos de evolução, e por isso rica em formas e
influências. No campo ou na cidade, mais refinada ou perfeitamente rústica, a
arquitetura portuguesa típica sempre teve uma vertente muito prática, para
fazer face às agruras do clima e proporcionar as melhores condições de vida aos
seus habitantes, longe da existência de arquitetos, que se dedicavam a grandes
obras como palácios ou catedrais.
Com simplicidade e uma grande
ligação ao meio envolvente, essas casas típicas, construídas de materiais
naturais das regiões onde se localizam, marcam a paisagem de norte a sul,
caracterizando muito bem cada região. Claro que também temos as grandes obras
de que falámos anteriormente, com estilo refinados e ostensivos, como o gótico
e o manuelino, e um vasto património de arquitetura religiosa, mas hoje
debruçamo-nos sobre a arquitetura habitacional, mas modesta mas igualmente
fascinante.
3.1 – O Algarve – influências
vindas de sul.
Começamos a sul, com as suas casinhas brancas caiadas e as suas
chaminés tradicionais. Aliás a chaminé assume uma importância estética bastante
proeminente em toda a arquitetura tradicional portuguesa, aumentando de
imponência no Alentejo, e atingindo o seu expoente nas chaminés algarvias, trabalhadas
e muito decorativas. As casas tradicionais algarvias são brancas, para refletir
a intensa luz solar e manter a temperatura interior, e a sua cal é anualmente
renovada como prova dedicação e vaidade. As faixas coloridas que emolduram as
portas e janelas unem estas construções às Alentejanas, mas os materiais e as
formas variam consoante a região onde se inserem, desde o xisto e a grés
vermelha da Serra do Caldeirão, até ao granito da zona de Monchique.
Os telhados são de telha moura ou
portuguesa, e no litoral as açoteias dominam, com o seu ponto mais alto no mirante,
pensado para ver os barcos a chegarem da faina
A arquitetura algarvia tem fortes
influências da arquitetura árabe, mourisca, ou não tivesse o Algarve sido o
último reduto dos mouros em Portugal. Essa influência é visível nas referidas
açoteias, nas platibandas decorativas a rematar a casa e nas próprias chaminés
rendilhadas, mas também nos interiores, em azulejos, gelosias e decorações.
3.2 – O Alentejo – Muito frio,
muito
A ausência de piso superior e as
paredes caiadas com a sua tradicional faixa azul são típicas destas paragens,
em que a arquitetura se funde com a planície e os materiais e as formas se
adaptaram ao clima.
Tradicionalmente as casas rurais
típicas alentejanas eram feitas em taipa ou adobe, aproveitando os materiais
naturais que a terra escaldante proporcionava. A parede de terra tinha uma
excelente massa térmica e mantinha a casa, fresca no verão e quente no inverno,
resistindo às fortes amplitudes térmicas. Nas últimas décadas estes métodos de
construção foram quase esquecidos, e substituídos pelo tijolo furado simples e
pelo betão que são bons condutores de calor, o que fez perder a eficiência
energética e fez disparar a necessidade de aquecimento adicional e os subsequentes
gastos energéticos.
Atualmente há uma forte tendência
de recuperar técnicas e estéticas, atualizando-as e trazendo-as para a
modernidade, sobretudo no que se refere às superfícies envidraçadas que eram
tradicionalmente pequenas e que têm vindo a ganhar cada vez mais relevância na
fachada, num tradicional moderno, mas que se não for muito bem planeado pode
pôr em causa a eficiência energética da construção.
3.3 – A casa portuguesa
A casa portuguesa foi a resposta
de vários arquitetos e pensadores dos finais do século XIX à invasão de
influências estrangeiras na arquitetura, que se traduzia em chalés alpinos ou
casas góticas em plena cidade do Porto ou em Cascais. É no fundo um movimento
cultural nacionalista, que veio criar uma estética de influências campestres e
românticas que associavam à nossa identidade como nação rural.
Bastante controverso e debatido,
este tema influenciou, e ainda influencia hoje em dia, a produção arquitetónica
no nosso país, gerando habitações pitorescas com telhados de telha vermelha e
beirais mais ou menos proeminentes, portas adornadas, molduras em várias
dimensões da fachada, portadas e alpendres.
3.4 – Interior centro e norte – a
fiabilidade monolítica do granito
No norte a paisagem tinge-se de
cinzento e castanho do granito que constitui o esqueleto infalível das casas.
Mais do que noutras regiões do nosso país as casas são autênticas fortalezas,
ninhos que recebem no seu calor e protegem o Homem dos agrestes elementos. O
lado prático das construções gerou casas pequenas, de exíguos compartimentos,
muitas vezes com dois andares em que a escada formava um coberto ou alpendre, e
o rés-do-chão, a loja, servia de curral para os animais e armazém para
alimentos e alfaias agrícolas. Quando não havia dois andares (características
mais prevalente mais para Trás-os-Montes ou em casas mais ricas) as casas eram
térreas e tinham um logradouro murado, chamado de pátio, com uma área coberta,
e que tinha a mesma serventia da loja.
Atualmente estas casas cheias de
história e de alma estão a ser recuperadas, preservando a sua estética, mas
atualizando os interiores, tornando-se em habitações espetaculares.
4 – Arquitetura moderna – a
preferida para construção em Portugal
4.1 – Como surgiu
O conceito de arquitetura moderna
é um conjunto lato de características com origem em várias escolas, conceitos e
profissionais, como a Bauhaus, na Alemanha, o conceito do famoso arquiteto Le
Corbusier, em França, e o de Frank Lloyd Wright nos Estados Unidos.
Esta corrente assenta no corte
radical com os padrões de ornamentação puramente estética do passado e teve
duas vertentes reconhecidas: a “International Style”, europeia, e a “Arquitetura
Orgânica”, americana. Embora diferentes no resultado, ambas tiveram como base a
eliminação da ornamentação e da complicação para reverter numa arquitetura mais
pura, geométrica e simples. Os edifícios abriram-se e tornaram-se mais
económicos, mais úteis, mas também mais despojados e com algo de industrial,
fruto da época que se vivia.
A casa moderna torna-se assim
simples e despojada, quase austera, focada na funcionalidade, e definida pelas
máximas “Menos é mais”, do arquiteto Mies Van der Rohe, e “A forma segue a
função” de Louis Sullivan.
Atualmente as regras são um pouco
menos rígidas, e há diversos tipos de arquitetura moderna, sendo até possível
modernizar o interior de uma casa construída em qualquer outro estilo, porque a
modernidade não se limita à fachada, ou à forma da construção, também os
interiores têm a sua própria modernidade…
4.2 – Os princípios
Baseados nos princípios da
arquitetura moderna segundo os seus fundadores, os modernos edifícios
portugueses têm linhas simples, geométricas e depuradas, grandes aberturas
envidraçadas, telhados planos e ambientes amplos interligados.
O mobiliário adquire a mesma
pureza das linhas arquitetónicas e acompanha a máxima funcionalidade aliada a
uma estética simples e funcional. A compartimentação da construção mais
clássica desaparece, não só nas novas construções, mas também nas antigas casas
renovadas. Os ambientes tornam-se mais fluidos e luminosos, promovendo uma vida
familiar mais estreita.
E é por isso que os portugueses
gostam tanto da arquitetura moderna, sendo mesmo o estilo mais escolhido para
as novas construções. O apelo da simplicidade conjuga-se com alma lusa, casa
com a arquitetura simples e funcional tradicional do nosso país, acabando por
criar habitações com linhas atuais mas com o mesmo espírito de ninho das casas
antigas, pesem embora as diferenças estruturais e estéticas.
5 – Arquitetura alternativa – o
futuro é hoje?
Já ouviu falar das casas
contentor?
São uma das muitas arquiteturas
alternativas que a atualidade nos trás… São casas espetaculares fabricadas com
contentores de navios, forrados e adaptados para servirem de compartimentos
para habitação. Mas há mais! Desde hotéis cápsula, pequenas unidades onde é
possível passar uma noite confortável a um preço mais baixo no Japão, até
edifício autossustentáveis, a arquitetura oferece as suas mil faces para servir
cada vez melhor o ser humano nas suas necessidades em constante evolução.
E as casas pré-fabricadas
modulares podem incluir-se neste categoria de arquitetura alternativa, apesar
de já serem relativamente comuns e cada vez mais rigorosamente produzidas para
oferecerem as condições mais fiáveis, pois apresentam-se ainda hoje em dia como
uma alternativa à arquitetura der construção mais tradicional.
6 – E a arquitetura paisagística
entra onde?
É outro tipo de arquitetura, mas
não deixa de complementar a arquitetura de edifícios na criação do ambiente
edificado perfeito.
A arquitetura paisagística
planeia e intervém nos exteriores das construções, englobando tudo que
interfere na paisagem que as envolve, projetando espaços que valorizam a
relação entre as pessoas e a natureza. E se lhe parece que esta atividade é
apenas uma subsidiaria da jardinagem, esqueça!
Estes profissionais necessitam de
conhecimentos de jardinagem sim, mas também de biologia, arte, topografia e
geologia, entre vários outros, sendo responsáveis por conseguir uma simbiose
perfeita entre os elementos artificiais construídos e a paisagem natural, mas
também pela paisagem urbana que envolve as áreas edificadas.
Fonte: Homify
Imagem: Jdias
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